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Foz do Dão

por neves, aj, em 14.01.08

PhotobucketComo o nome indica, a Foz do Dão lembra o local onde o Rio Dão desagua, não no Atlântico que ainda está longe mas num outro rio, no Mondego. Pensando melhor teremos que corrigir e mudar o tempo do verbo para o pretérito visto que a parede da Barragem da Aguieira erguida uns quilómetros a jusante baralhou a geografia e agora torna-se impossível definir o local exacto onde as águas dos dois rios se misturavam. Assim, o prejuízo imediato da construção da Barragem foi o naufrágio total e completo da foz do rio que atravessa a nossa cidade natal e também o desaparecimento do mundo acima de água da pequena povoação da Foz do Dão que fazia parte da freguesia de Óvoa, concelho ou município de Santa Comba Dão. A foto, bem antiga, que nos chegou via mail da parte de um tal Luís Martins que sinceramente pensamos não conhecer, mas a quem agradecemos, mostra-nos para além do casario a soberba ponte que unia as margens do Mondego e que portava consigo o nome de Ponte Salazar. Merece um clique de ampliação já que, em abono da verdade deve ser dito, era uma construção mui bela que por acaso tivemos o prazer de admirar de perto e atravessar várias vezes e só lamentamos não saber em que ano teria sido inaugurada visto que assim conseguiríamos datar a foto... é que não nos ficam muitas dúvidas de a imagem parecer testemunhar esse acto simbólico e marcante na vida de uma região, como o é a inauguração de uma ponte que une povos, dado o ambiente festivo com um substancial aglomerado de pedestres no tabuleiro e a presença dos tradicionais carros negros que usualmente transportam as individualidades ou autoridades locais e/ou nacionais.

Bom, mas esta entrada não foi feita ao acaso. É que ao darmos à estampa esta foto aproveitamos para anunciar que periodicamente iremos passar a publicar outras mais fotos bem antigas do burgo que nos viu nascer, algumas delas tão antigas que pessoas que hoje seriam centenárias relatavam não se recordarem de alguns pormenores retratados. Serão mais de meia centena de fotografias que irão sendo compiladas em álbum próprio após cada publicação.

Porque se impõe, registe-se que este tesouro que muito vai enriquecer o Voz do Seven é oferta do amigo Sr.Carlos Ribeiro proprietário da Foto Ribeiro na nossa Santa Comba Dão natal a quem endereçamos um abraço maior que o Atlântico para além de cordiais agradecimentos que desejamos estender ao genro do nosso irmão mais velho, casado com uma sobrinha como se deduz, pela disponibilidade (e paciência) arranjada para nos enviar as verdadeiras pérolas do antigamente. Em pequena amostra podem de imediato admirar o postal ilustrado que faz parte daquela colecção e que retrata esta mesma Foz do Dão e a Ponte Salazar, hoje submersas, observadas de outro ângulo, de frente ao sabor da corrente, e que permite inclusive observar o loca exacto onde o Dão oferecia as águas ao Mondego, precisamente na sua margem direita.

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publicado às 06:49


7 comentários

De A. Silva a 06.01.2010 às 21:51

Gostaria de questionar, a quem possa facultar tal informação, se actualmente ainda existem alguns "vestígios" desta aldeia Histórica. Casas que tenham "escapado" a subida das águas, a Igreja, o cemitério, etc... algo sobrou no local que identifique a aldeia?
Gostaria também de saber se existem imagens fotos/videos da fase de subida das águas quando foi o encerramento da barragem, e a aldeia foi submergindo aos poucos. Houve registo desse penoso evento?

De Jose F.Matos a 19.08.2008 às 22:10

Sendo natural da Foz-do-Dão,e lá tendo vivido até aos meus vinte anos,confirmo a data da inauguração da ponte, avançada pelo sr.Fernando Rosas, (OUT/1935,e, adianto ainda, que foi dia 17, conforme constava em dois monumentos existentes alusivos à inauguração da citada e muito saudosa Ponte Salazar.

De Fernando Rosas a 12.07.2008 às 13:14

Posso informar que a ponte foi inaugurada em Outubro de 1935 conforme monumento existente junto a ponte e da qual tenho fotos, assim como outras.Informo tb que esta foto nao é da inauguraçao da ponte mas sim da visita de Americo Tomas, conforme relatos de pessoas que tem esta foto e que viveram na Foz do Dao

De Neves, AJ a 21.04.2008 às 07:16

Agradeço a sua presença e contribuição caro Dr. Mateus Ferreira.
Tive o cuidado de colocar o comentário/artigo em local de maior visibilidade fazendo pequena entrada introdutória que pode ser acedida aqui (http://vozdoseven.weblog.com.pt/arquivos/260158.html).
Espero que esteja do seu agrado e Voz do Seven agradece-lhe que volte e que comente quando lhe aprouver.
Saudações transatlânticas
Neves, AJ

post-scriptum - Caro Zé, já temos uma data... 1933.

De Alcídio Mateus Ferreira a 19.04.2008 às 19:34

O meu comentário a esta entrada é a reposição deste meu escrito, para a valia que lhe encontrarem:

A Barragem da Foz-do-Dão

Muita gente terá conhecido – e dela se lembrará, por certo – uma pitoresca e bem antiga aldeia que ficava situada entre Penacova e Santa Comba Dão. Era na velha estrada, depois do Porto da Raiva, logo a seguir à característica ponte sobre o Mondego (que então se chamava Ponte Salazar), esta inaugurada em 1933, no tempo em que o Ministro da Obras Públicas era o Engº. Duarte Pacheco.

Situava-se a povoação a que me refiro no ângulo formado pela margem direita do Mondego e a esquerda do Dão, em cujo vértice confluíam os dois rios.

Por isso mesmo se chamava Foz-do-Dão.

Era uma aldeia típica das nossas pequenas terras da Beira, bonita de se ver, com todo o seu casario alegremente debruçado sobre os rios que tão generosamente constituíam, além da agricultura, importante modo de vida das suas gentes.

Além de ser margem daqueles dois rios, a Foz-do-Dão estabelecia também os limites dos concelhos de Santa Comba Dão, Penacova e Mortágua, dividia os distritos de Coimbra e Viseu e separava a Beira Litoral da Beira Alta.

Chamou-se em tempos Porto da Foz-do-Dão, quando o rio Mondego, então navegável dali até à foz, era relevante via de comunicação, nomeadamente no transporte de madeiras para jusante e de sal e outros produtos do litoral para o interior.

Quem dela se lembra, recordará certamente a excelente iguaria que era a lampreia do Carlos, ali pescada, o sável e os peixes do rio, óptimos petiscos que lá eram apreciados por quem a visitava ou por lá passava.

Esta aldeia foi sacrificada a favor da construção da barragem que hoje ali se vê e está agora submersa nas águas que esta represou.

Foi tomando-a aliás como ponto de referência que se desenvolveram os dois projectos que entre si disputaram a construção da Barragem: um, o chamado projecto do Caneiro-Dão, defendia que ela se construísse a montante, sem submergir a povoação; o outro, o projecto dito da Aguieira (apenas porque foi lá perto que foram feitas as primeiras sondagens), previa o desaparecimento da Foz-do-Dão, propondo a construção da Barragem logo a jusante da aldeia.

Este último, como se sabe, acabou por prevalecer.

E lá temos agora a barragem, com a sua imponente e bela albufeira e nela submersa a Foz-do-Dão, que sacrificou assim aquela terra, as suas gentes e a ancestral cultura daquele povo que de repente se viu pulverizado em pequenos núcleos familiares a assentar arraiais cada um em seu sítio diferente.

Não vejo que possa estabelecer-se alguma ligação da barragem com a povoação por cujo nome é conhecida, tanto mais que a distância que vai da barragem a essa povoação é bem maior do que a que separava aquela da Foz-do-Dão.


É certo que barragem propriamente dita é a sua estrutura de betão represadora das águas. Mas barragem é também mais comummente identificada com a própria albufeira que se forma a montante dessa estrutura de betão armado.

É mesmo essa albufeira, a extensão de água que ocupa e a quantidade que pode acumular que valoriza a barragem e lhe dá sentido, seja em termos energéticos e industriais, seja na perspectiva turística e ambiental.

E é no fundo dessa mesma albufeira que acabou por ficar para sempre esquecida a velha e pitoresca aldeia que se chamou Foz-do-Dão, assim eliminada da toponímia portuguesa.

Merecia por isso que, no mínimo, fosse lembrada, até porque imolou a sua própria vida e a continuidade da sua história, a sua existência, a sua cultura, tudo o que era, o que tinha e até alguns dos seus filhos à construção daquela barragem.

É por tudo isto que ainda não consegui entender porque é que lhe hão-de chamar, tão sem sentido, da Aguieira, em vez de ser chamada, como tão justamente devia ser, Barragem da Foz-do-Dão.


Alcídio Mateus Ferreira – Dezembro/1991. Publicado no jornal “As Beiras” de 03/12/1991

De Neves, AJ a 18.01.2008 às 13:26

Obrigadinho pela informação das datas, caro Zé.
Quanto à foto mais se poderia dizer , mas o que eu gostava que ficasse registado é que a minha intenção foi recordar a Foz Dão, menos um pouco a ponte e muito menos o nome dela.
Aquele abraço

De josé branquinho a 18.01.2008 às 12:39

A Ponte Salazar, na Foz do Dão, deverá ter sido construída nos inícios da década de 30, do séc. XX. Isto porque no concelho de Odemira existe uma ponte igual construída em 1936, e em cuja construção foram utilizadas as mesmas cofragens. A foto da inauguração é sem dúvida uma novidade que fica muito bem no Voz do Seven.
um abraço

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