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Nascido em 1917, meu pai completaria hoje, 25 de Fevereiro, 91 anos
Talvez houvesse festa. Creio que sim. Sem pompa nem circunstância, bastaria que em qualquer canto do planeta e em clima de franca alegria [e sem a sensação de despedida a pairar sobre as cabeças] se reunissem à sua volta os filhos e netos (e alguns bisnetos) e se não evoco minha mãe é porque ela é apenas memória há mais de trinta anos. É, Zé Neves, isto hoje está mal de palavras. Eu bem puxo por elas, mas está difícil. Espremo a laranja, às vezes limão, mas nada de suco. Confesso, e você tem de aceitar, que com a mãe torna-se mais fácil. Sinto-me mais solto com ela e a liberdade que tomei em tratá-la por tu é prova inequívoca. Para mais, se com a mãe a escrita começar a falhar tenho trunfo forte entre imaginações: puxo por uma rosa que vale mais que um milhão de palavras. E se for uma rosa vermelha, igual àquelas que você cuidava no quintal de casa e que nem sei se ainda existem, então valerá dezenas de milhão. A si, o que lhe vou oferecer neste dia de aniversário? Se eu tivesse nascido Maria talvez lhe desse então uma flor ou enviasse um beijo, mas sendo que não e assim num repente de momento acho que vou embelezar este texto a si dedicado com algo que também lhe pertence e que todos os dias me diz ao espelho que não é doença e sim certidão de nascimento.
Talvez eu estivesse presente, quem sabe. Talvez os quatro filhos estivessem juntos, vá lá saber-se. Mandar-se-iam às malvas, seguramente, os temores do colesterol e da tensão alta e brindar-se-ia por um ano mais na esperança ilusória de que a sequência jamais será interrompida!
Talvez eu redigisse meia dúzia de palavras em rima para a neta declamar após o apagar de velas e o entoar de parabéns, e quase de certeza que as publicaria em homenagem pública no jornal da terra. Na Sexta-feira meu pai colocaria, pleno de prazer, a tradicional bolinha à volta da minha assinatura. Seguramente.
Talvez, quem sabe... tanto talvez e pouca certeza, aliás a minha única certeza é que tudo o que escrevi se passa nas ondas da minha imaginação porque a realidade é outra bem diferente que me deixa assim meio zonzo de palavras.