Ontem, Quarta-feira 2, foi dia de irmos ao Hospital. Fazer um Raio X em rotina anual. Tal como os gaiteiros que vão de véspera para anunciar a festa também a espertina me atacou bem cedo. Ainda não eram 5 horas já o silêncio da noite ouvia os estrondos das pedras do teclado rangendo à pressão dos meus dedos. Pelas 6:30 horas e mais uns minutinhos acordei a Maria. Enquanto ela foi tomar banho eu apetrechei a cachorra e preparámo-nos para o habitual passeio higiénico. Era já dia. Deveriam faltar uns cinco minutos para as 7 da matina. De sacola plástica no bolso das calças fato-de-treino, de abrigo como por aqui se diz, abri a porta da rua mas a "4 patas" ficou queda. Não se agitava de contentamento como era habitual. Estranho. Parecia que a vontade motora estava enguiçada e não dava o arranque. Grunhia, com grunhidinhos que a Maria diz serem de choro apesar de eu me perguntar sempre se um cão chora. Algo de anormal, de muito grave, teria que estar a passar-se para a cachorra se recusar a sair e antes dar a entender que queria subir novamente no sofá onde lhe tinha colocado a coleira e acessórios. Bom, lá diz o povo que o "material" tem sempre razão e não é que eu tinha colocado mal os arreios? Espertalhaça esta minha Piruças. Afinal não tem ervilha, não, como eu pensava. Tem um cérebro e ainda bem activo, pelos vistos.
Fosse por ausência de vontade ou falta de necessidade, os odores matinais e de outros caninos não despertaram na Piruças o desejo de me presentear com o habitual "presente". Estranho, quiçá reflexo da saída atribulada que tivemos. Agradeci-lhe.
Enquanto a Maria se trocava, como por aqui é conhecido o luso arranjar ou vestir e que da parte deste beirão sempre em meia loucura é ditote bastas vezes sujeito a trocadilho, fui ao banho. Rápido como sempre e desta vez bem necessário porque já lutava contra o relógio e convenhamos que com banho de poucos minutos até se vai em favor do Ambiente e contra a "conta de luz" já que o chuveiro é eléctrico.
Arranjei-me (ou troquei-me, se quiserem, embora por mim mesmo claro) num ápice, fechei janelas e persianas e entrei no sacro período da espera. Eram quase 8 horas e abri a porta da rua. Estava mais que pronto e afogueado para pôr pés a caminho. Ouvia a Maria lá pelo banheiro talvez ainda às voltas com o cabelo ou a dar os últimos retoques. Afinal, mulher é igual em todas as latitudes e longitudes. O dito Raio X estava programado para as 8:55 e mesmo sendo eu sabedor que as horas de marcação num serviço público de saúde não são de levar muito em conta, não gosto de chegar atrasado. Além do mais ainda nos esperava o trânsito. Quase sempre infernal. Bufando, fui espreitar à casa de banho e de rompante o afamado beirão meio louco e já citado não se conteve a evocar a piada do alentejano:
Maria porqué que pintas os bêços?
Ora, p'ra ficar mais bonita...
Atão porqué que na ficas?
Ai... ai... o que fui eu dizer... e só quando a agarrei pela cintura para a ajudar a subir no ônibus da Linha 6232 - Barra Funda é que os lábios vermelhuscos voltaram a entreabrir-se livre e francamente.
De resto, correu tudo bem, tão bem que eram 11 horas e mais uns trocados quando já estávamos de regresso e a fazer uma festa à Piruças que, como habitualmente, estava a fazer um chinfrim do cacete por se ver sozinha.
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