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Portugal inclinado

por neves, aj, em 07.07.08

Fuga, suicídio ou desertificação? Talvez desprezo e abandono, narra-vos este beirão de Santa Comba Dão.

PhotobucketPara frustração de todos aqueles que teimam em dizer que tudo corre mal pelo reino de Cavaco e Sócrates não pretende esta (soberba) ilustração representar o mergulho nas águas do Atlântico do pequeno rectângulo à beira-mar plantado (pequeno, mas sempre belo e nosso)  em hipotético suicídio, nem pretende, de modo algum, representar uma potencial fuga à Europa e particularmente de nuestros hermanos com quem estamos umbilicalmente grudados não só  por laços culturais e emocionais como também por perigos e guerras travados ao longo dos séculos, afinal esta última hipótese até poderia ser levada bem em conta numa ficção bem caseirinha, seria como que uma jangadazinha à portuguesa com relativas semelhanças e diferenças à Jangada de Pedra de Saramago só que a jangada na novela por nós idealizada, a que daríamos talvez o nome de Lusitânia p'ra todos, jamais estacionaria definitivamente em lugar algum. Lógico que não nos esqueceríamos de rumar a norte para que as belas ilhas dos Açores se juntassem, com promessa de estreitar o canal, e não se pense que quando descesse o Atlântico a bela Lusitânia, talvez de velas ornamentadas com o Zé Povinho, se esqueceria da Madeira já que, apesar de tudo, afinal nem a Ilha nem as gentes lhe fizeram mal algum. Bom, depois começaria a epopeia, mais uma: sem parar, em equilíbrio fraternal, andaria às voltas pelo mundo dando carona ou boleia a todo e qualquer que viesse por bem, fosse ele negro ou russo, asiático ou sul-americano e somente encostaria para abastecer e em porto onde houvesse português ou seu descendente que necessitasse de colo quentinho e aconchegante permitindo ainda em livre concordância que uns entrassem e outros saíssem para que o equilíbrio se mantivesse.
Bem... claro que é mais que sabido que o autor da ilustração publicada desejou ironizar o fluxo migratório em terras portuguesas, com as gentes rumando do interior para o litoral, deixando o primeiro desertificado e sobrecarregando as fábricas sediadas à beira-mar o que pode fazer com que um dia destes as barreiras colocadas a outros povos se comecem a sentir entre gentes que professam o mesmo hino e carregam a mesma bandeira (claro que temos que exceptuar alguns como o badameco do Miguel Sousa Tavares que não gosta das rimas da Portuguesa nem das cores verde e rubra). Mas em verdade vos dizemos caros amigos leitores que como homem do interior que somos, beirão com muito orgulho note-se, onde nascemos e crescemos bebendo da seiva mais elaborada do Universo e onde mentalmente haveremos de morrer (já que a morte física não escolhe lugar) achamos que a ilustração antes representa o desprezo que nos ofereceram, oabandono a que todo o interior do país foi votado ao longo dos tempos, mesmo por alguns considerados grandes cérebros que por lá nasceram e que tiveram a faca e o queijo na mão, a oportunidade de o desenvolver não necessitando sequer de trazer a brasa à sua sardinha apenas agir de forma equalitária em relação ao restante território. Antes preferiram, em orgulho solitário, que as suas raízes continuassem a ser cultivadas de forma medieval, em silêncio, que as estradas continuassem como autênticos caminhos de cabras comparadas às demais, que as fábricas, os Hospitais e a Escolas se mantivessem bem longe daquelas terras habitadas por gente afável, trabalhadora e hospitaleira e maravilhosamente ornamentadas por montanhas tão protectoras que nem colo de mãe.
Agora, esquecidos os tempos de agruras e da falta de livre expressão querem ressuscitar a memória de alguns desses ilustres com base nas raízes e no torrão natal, curiosamente essa mesma terra que eles esqueceram de desenvolver... ao invés deste (também) filho da terra que teima em não esquecer, nem o interior nem a eles e muito menos aquilo que eles jamais fizeram por nós.

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publicado às 12:10


2 comentários

De Neves, AJ a 08.07.2008 às 07:42

Começo já por te retribuir, caro MP, com aquele abraço agradecendo-te por mais uma vez colocares comentário aqui neste nosso espaço que umas vezes bem outras nem por isso lá vai indo. Curiosamente tive noção do exacto momento em que comentaste (estava às voltas com a CPLP) e pensei logo que não desligaria esta velha carcaça sem te responder já que algumas vezes fico em débito... por estas respostas e agradecimentos que não são escritos aqui ficam as respectivas desculpas, mas quero que saibas que tenho sempre conhecimento do que comentas (tu e qualquer um, ora). Sobre o que escreves é verdade que isso acontece e sobre "obras" estarás bem dentro, mas lembra-te que o abandono ao interior (de uma forma desprezante) vem de há longa data.
Bom, despeço-me, tenho que ir mais a "Maria" rumo ao Hospital para consulta de rotina onde nos espera uma "saborosa espera", afinal nada assim tão desconhecido para quem defende e alinha no Serviço Público de Saúde.
Saudações transatlânticas para ti, o teu clã e toda a malta que eventualmente me leia mui especialmente a residir nesse quentinho nicho beirão.
Neves, AJ
um santacombadense por terras brasilenses

De mp a 08.07.2008 às 06:12

Os politicos(que nos governaram nos ultimos anos) acham que Portugal é só o litoral, e então há que desertificar tudo o resto. Por algum motivo o distrito de Bragança não tem um Km de auto- estrada.
Enfim, pode ser que tudo isto mude um dia........
Um abraço.
mp

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