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À Mãe

por neves, aj, em 15.07.08

Entrada dedicada não à minha mãe em particular mas a todas as mães deste mundo (onde quer que se encontrem), tanto que o poema não é meu e sim do grande Miguel Torga.

MÃE

PhotobucketMãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti - não me respondes
Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!                             Miguel Torga






Miguel Torga é pseudónimo literário do médico Adolfo Correia Rocha que nasceu em S. Martinho de Anta, Sabrosa, Trás-os-Montes, em 1907 (12 de Agosto) e faleceu em Coimbra a 17 de Janeiro de 1995. Até abrir consultório em Coimbra (1939) teve uma vida mais que preenchida: começou como criado em casa apalaçada com apenas 10 anos na cidade do Porto e foi despedido por insubmissão; foi estudante no  Seminário de Lamego onde no final do primeiro ano desistiu de ser padre; em 1919 rumou ao Brasil, Estado de Minas Gerais, para trabalhar na fazenda de um tio em regime de quase escravatura, "fui autêntica máquina de trabalho", como referiu mais tarde; no entanto no Brasil ainda estudou num colégio a expensas de seu tio que ainda propôs pagar-lhe os estudos em Coimbra como forma de compensação pelos seus 5 anos de trabalho na fazenda e regressou a Portugal onde na Cidade do Mondego fez o Curso Liceal e em 1928 entrou na Faculdade de Medicina... e para saber mais sobre um dos nomes grandes da Literatura Portuguesa queira o estimado leitor ter agora a fineza de aceder a apresentação de slides que nos foi oferecido e que temos em arquivo.















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publicado às 10:17


1 comentário

De Anónimo a 17.01.2009 às 21:29

Miguel Torga escreveu este poema em frente ao cadáver da própria mãe. Arrepia o mais bruto do seres...enfim, poetas. Têm uma dimensão sensivel e uma percepção da Vida muito mais aguçadas do que a comum das criaturas mortais e também uma coragem absolutamente titanica. Bem hajam.

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