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O Catador de Lixo
O catador de lixo, de cartão ou tudo o que ele entenda merecedor, é uma das figuras carismáticas nesta enorme urbe dos contrastes. Hoje damos-lhe destaque, a ele e à sua trupe de vira-latas, e porque merecem ser admirados ao pormenor ainda os brindamos com foto ampliada. Fica ainda o registo que a foto foi publicada no Estado de S. Paulo e era citado em legenda que o instantâneo foi captado durante travessia do emblemático Viaduto do Chá [razões de um nome] em pleno Centro de S. Paulo.
Livre de fantasmas e de mente bem aberta, democraticamente se redige
A foto (aqui ampliada) que rebusquei na pasta das de "há quase quarenta anos" é de um desses acampamentos, penso que Regional, montado no Parque do Fontelo em Viseu. Das peripécias que de imediato me afloram à mente foi a ida a um desafio de futebol entre o Académico de Viseu e o Espinho e que durante a semana que lá permanecemos fui obrigado a comer massa esparguete que ainda hoje detesto, para além, tá claro, de umas brincadeiras (provocar o "abafar" das tendas vizinhas tirando as espias) que nos custaram umas reprimendas. Falta ainda dizer que a nossa quina, aqui acrescentada com a presença do nosso chefe, está em pose à frente da tenda onde dormíamos e que eu, o chefe de quina (oh... oh... chefe) estou assinalado pela seta de cor vermelha, propositadamente vermelha de cravo de modo a sobrepor-se ao cinzento Portugal de então.Naquele tempo, lá íamos cantando e rindo, em orgulhosa ignorância, fardados com uma camisa verde e com este dístico colado ao bolso esquerdo. As calças (ou os calções) eram de cor bege ou acastanhadas (marrom) e na fivela do cinto desenhava-se um S que talvez significasse Salazar...
era a Mocidade!
A Mocidade Portuguesa era assim uma organização juvenil que, com bases organizativas na juventude hitleriana, servia o regime salazarista, o Estado Novo, fomentando o culto do chefe e o espírito militar... pr' Angola em força, já!
Seria cobarde da minha parte não admitir que até gostava dos encontros das tardes de Quarta-feira e até talvez tivesse orgulho em me fardar. Recuando aos meus 11,12,13,14... 15 anos (sei que em 1970 fui fardado ao funeral de Salazar) recordo o entusiasmo com que a nossa quina tentava decifrar os sinais que estavam estrategicamente camuflados ao longo da pista e que, se bem interpretados, nos levariam ao ponto de chegada e ainda os animados acampamentos que, apesar de tudo, tinham o condão de nos ensinar a conviver socialmente fomentando amizades que ainda hoje perduram.