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(quem gosta de me ler não lhe interessa se o livro é extenso... Ant. Lobo Antunes)
... previsível, demasiadamente previsível este ataque ao guarda-redes da Selecção Nacional Portuguesa feito com claras segundas intenções. Nós partimos em sua defesa, inevitavelmente, e no final exigimos a Ordem do Infante para Voz do Seven.
Em futebol, quando a derrota acontece ele é muitas vezes o eleito para descarregar a fúria dos maus perdedores, porque, claro está, é o último entre a bola e a linha de golo, o último a ser batido. Dele tantas vezes se espera um milagre e se este acontece é idolatrado, mas se ele falha então passa de imediato de bestial a besta. Ingratidão.
Falamos, claro, do guarda-redes que por terras brasileiras é chamado de goleiro.
Apesar de não nos considerarmos velhos já temos Novembros suficientes que nos permitiram conhecer grandes guarda-redes que deixaram o nome escrito a letras de ouro nos relvados (gramados) por esse mundo afora, mas temos igualmente memória suficiente para recordar que todos eles, TODOS, os considerados bons guarda-redes, deram o seu frango (gíria futebolística para designar aquela bola que entra, mas que até criança defenderia) sendo que algumas destas "facilidades" comprometeram seriamente as pretensões das equipas que defendiam, de tal ordem que os tais frangos jamais sairão dos livros de história da bola e da mente de quem assistiu... como aquele galináceo entre as pernas de Costa Pereira, que naquela noite chuvosa de 1965 em San Siro, Milão, nos levou a nós criança a caminho dos 10 anos e entusiasta por Eusébio e companhia provavelmente às lágrimas por esse frango entre pernas ter impedido o clube da águia ao peito erguer mais uma Taça dos Campeões Europeus, ganha assim pela Internazionale com aquele único golo marcado pelo brasileiro Jair. Mas não era só o apelidadoCosta dos Frangos que fazia a sua fífia. Outros grandes o imitavam, como José Pereira, o Pássaro Azul (do Restelo), Américo do FC Porto e Carvalho do Sporting CP e depois José Henrique e Bento do Benfica, Zé Beto do Porto, ou o grande Damas do Sporting, o mais elegante e elástico dos goleiros. Mais recentemente, Vítor Baía do FC Porto um dos grandes das balizas portuguesas também não escapou à regra de que o grande guarda-redes e o respectivo frango estão umbilicalmente ligados, visto que bola deixada entrar infantilmente pelo mau defensor considera-se normalidade e nem sequer é focado como tal.
Ao partirmos em defesa de Ricardo nesta crónica veio-nos entretanto à memória o goleiro brasileiro Barbosa que na célebre Final do Mundial de 1950 em pleno Maracanã, Rio de Janeiro, foi acusado de ter oferecido a vitória para o vizinho e rival Uruguai com um monumental frango. Apesar de crucificado de imediato, o que até aceitamos dada a paixão que rodeava o encontro, nunca se livrou da cruz e passou os restos dos dias carregando Cruz mais pesada que a cruz da vida e a sua memória ainda não mereceu a devida reparação... tal como a cor negra da sua pele que ainda sofre alguma execração nas balizas brasileiras.
Claro que Ricardo, o guarda-redes que Luiz Felipe Scolari entendeu colocar a defender a baliza (meta em perspectiva brasileira) da Selecção Nacional Portuguesa, não passou nem passa por tamanho Calvário, mas já cheira a ridículo a perseguição que certos sectores dos futebóis lusos lhe movem. Tal como aconteceu em 2004 com o golo grego que ditou a nossa derrota na Final do Europeu disputado em Portugal também agora circulam pela internet fotos que querem convencer-nos que o terceiro golo alemão foi frango ou por outras palavras que Ricardo é o causador da eliminação (prematura?) de Portugal no Europeu 2008.
É lógico que não somos morcões alguns para não sabermos de onde partem estas pérolas, só que não conseguimos entender é como que estes fiéis ainda não conseguiram engolir a espinha servida a frio pelo seleccionador nacional em 2003/2004 por não ter pescado nas Antas o peixe dourado e mais querido: Vítor Baía. E a indigestão é de tal ordem que o pacote que nos oferecem ainda traz o golo grego... se é para nos avivarem a memória poderiam ser uns gajos mais democráticos e ter lá colocado uma sequência de imagens do chapéu do Poborsky que nos eliminou em 1996 para continuarmos a discussão se afinal foi frango por adiantamento de Baía ou não. Mas entende-se e não será necessário esquema, claro. Convenhamos que por um lado nem é mau de todo este catálogo à La Redoute com que já fomos brindados por três amigos e em que nos são mostradas fotos pormenorizadas dos pormenores, se nos permitem, da hipotética falha de Ricardo... demonstra afinal que os anti-Ricardo consideram a Alemanha como uma equipa vulgar e que vêem que no desafio nos batemos de igual para igual, sinónimo de que admitem uma personalidade adulta na Nossa Selecção e nós acrescentaremos que os próprios fazedores das fotos também já evoluíram mentalmente porque há uns anos a esta parte até se borravam só de ouvir o nome Alemanha.
Confessamos que não estava nas nossas pretensões tentar explicar as razões de sofrermos aquele golo ou o anterior, ambos partindo de lances de bola parada, previsíveis, estudados, lances que de certeza foram mais que esmiuçados em palestras/vídeo porque quem lá andou dentro sabe perfeitamente como estas coisas acontecem: um lance até pode ser previsível, mas uma pequena distracção ou por outras palavras uma falta de concentração e consequentemente falha na marcação e tempo de antecipação leva tudo a perder e em alta competição, imaginamos, cada centésimo deve valer ouro, a glória ou o inferno. Houve falha sim... de concentração, de marcação e, por curiosidade diga-se que durante o nosso percurso amador sempre nos foi dito que um homem marca-se por trás e não pela frente. Bom, talvez agora no Chelsea Scolari explique isso melhor, o que não isenta de falha Ricardo nem sequer Cristiano Ronaldo colocado atrás do marcador do golo talvez à espera de uma hipotética "sobra de bola" para iniciar o contra-ataque... mas isto nem todos conseguem ver ou não querem perceber. Culpados? Foram todos, carago que se diz carago sim e até o árbitro sueco errou no terceiro golo, mas também lhe damos o benefício.
Agora trazer isto à tona é que achamos de uma mesquinhez própria apenas de devotos em cruzada há séculos perdida, e tão estúpida como lutar contra moinhos de vento. Voltamos à vaca fria e perguntamos: afinal porque razão Baía haveria de ser convocado? Por vestir a camisola do FC Porto? Homessa. O privilégio de pertencer a uma instituição ganhadora não lhe dá direito algum. O facto de ser bem falante e bem apessoado? Campo de futebol não é palco nem passerelle. Quem é que forma uma equipa? São os jogadores, os dirigentes, os adeptos ou o treinador? Ah... os prémios... melhor da Europa naquela época e blá, blá, blá... não sabemos todos nós que a qualificação de melhor é sempre subjectiva? E que é o guarda-redes o elemento que tem de transmitir mais confiança ao treinador? Scolari entendeu que ele não reunia as condições e pronto. Ponto final na coisa. Dizem que os pratos italianos de massas alimentícias são divinais e nós pessoalmente detestamos, nem uma garfada conseguimos meter à boca. Vamos degustar porque os outros dizem que é bom? Era o que mais faltava. Scolari tinha que levar Baía porque os outros o consideravam bom? Ora essa.
Cremos que Scolari nunca deu explicações (seria estúpido se as desse) e provavelmente isso ainda mais enfureceu os cruzados, mas perguntamos nós: alguém deu explicações por Baía ser titular em 2002 naquele Mundial a Oriente que apelidamos em homenagem a António Oliveira, o Oliveirinha, de CJeP, copos jogatina e ... meninas? E o próprio Baía algum dia nos explicou a razão de se ter negado em representar a Selecção Nacional Portuguesa no Mundial Sub-20 na Arábia Saudita onde conseguimos o primeiro dos dois títulos de campeões? Ah... foi uma lesão... pois... não decorreu muito e os jornais davam em título que um miúdo de 19/20 anos era já titular da baliza do grande FC Porto... coincidências... como também agora foi o de ter sido contemplado com a Ordem do Infante no último 10 de Junho, condecoração que é atribuída àqueles que prestam serviços relevantes a Portugal e por tão banalizada leva-nos também a exigir uma Ordem para Voz do Seven... afinal mesmo distante está sempre ao dispor da Pátria em toda e qualquer circunstância, jamais se negando a servi-la, sempre pronto a erguer a Bandeira e a levar longe o nome de Portugal.