Voz do Seven 2

(a sabedoria e o conhecimento dos mais velhos também nos pode chegar através da internet)

A tragédia aconteceu há 70 anos, completados precisamente no passado dia 8 deste mês de Julho, e é acontecimento pouco ou nada comentado nos dias de hoje tanto que ao que consta os escritos da época são quase inexistentes. É verdade que sete décadas é muito tempo, é uma vida como soi dizer-se e já não serão muitos aqueles ainda presentes entre nós que presenciaram tão trágico episódio e roubou a vida a mais de um dezena de pessoas, mas por mero acidente uma dessas memórias vivas cruzou-se com Voz do Seven.

Trata-se do senhor Gonçalo Santos um conimbricense de 80 anos, aposentado dos CTT, amigo de há muitos anos dum nosso amigo de longa data e que tem como um dos passatempos da sua preenchidíssima vida de aposentado navegar pelas ondas desta vasta rede que une todos os pontos do Planeta. Feitas as apresentações pelo tal amigo comum depressa chegámos à fala através de um desses programas de conversação online e com sinceridade vos dizemos  que ficámos encantadoramente estupefactos com a jovialidade e o seu à vontade nas lides informáticas fazendo-nos esquecer as suas oito décadas de vida, mas a caixinha das surpresas não estava esgotada e ficámos ainda a saber que sua esposa D. Eulália, mais nova três anos, é também adepta (quiçá mais fervorosa, segundo o sr. Gonçalo) desta arte de bem navegar em toda a rede. Como não é todos os dias que somos brindados com dádiva tão rica tratámos de pedir autorização para mostrar ao mundo casal tão simpático, a caminho dos 60 anos de união, e grande exemplo de que a informática não escolhe idades e está realmente ao alcance de todos.
Foi assim numa dessas nossas conversas que soubemos que o sr. Gonçalo assistiu à Tragédia de Coimbra e que gostaria que Voz do Seven publicasse um texto sobre o acontecimento que ele próprio descobriu durante as suas deambulações pela rede já que a memória dos seus 10 anos prova ser verdadeiro, infelizmente, como nos diz em frase curta mas bem esclarecedora no final do texto/notícia que nos enviou.
Ei-lo:

Tragédia em Coimbra

No dia 8 de Julho de 1938, aconteceu, na Praça da República, uma das maiores tragédias a que Coimbra já assistiu.
Integrado no programa das Festas da Rainha Santa desse ano estava o ataque a um fogo, propositadamente a um prédio em esqueleto que fora construído para o efeito na Praça da República.
Para cumprir esses objectivos edificou-se o referido esqueleto com 4 andares (contando com o rés-do-chão) ao qual seria ateado fogo que os Bombeiros combateriam, salvando algumas pessoas que lá estavam.
A Praça encheu-se de gente para ver tal exibição mas algo correu mal.
Às 21,40 horas lançou-se fogo ao prédio com um molho de lenha embebida em petróleo, estando no seu interior 13 pessoas, pertencentes aos bombeiros e pessoal dos serviços de limpeza camarários.
Aconteceu que o fogo alastrou rapidamente e os bombeiros não havia meio de chegarem, tendo começada a ouvir-se os gritos dos que estavam no interior da estrutura.
Quando os bombeiros finalmente chegaram pouco havia a fazer, pois a maior parte das pessoas havia-se atirado do cimo do prédio (cerca de 17 metros de altura), morrendo 9 na queda (outro haveria de falecer mais tarde). Os outros dois morreram carbonizados por não terem tido coragem de saltar. O mais novo tinha 12 anos e chamava-se José Abrunhosa.
E assim ficaram manchadas as festividades da Cidade desse ano, por este trágico episódio em que não foram tomadas as medidas necessárias para se acautelarem a vida das pessoas envolvidas.
Penso que o caso só não teve tipo de consequências pois vivíamos nos tempos da ditadura com a comunicação amordaçada.

"Foi tirado da Internet mas tenho a certeza de que é verdadeiro pois tive a pouca sorte de assistir a este triste espectáculo... tinha apenas 10 anos mas tenho-o na memória como se fosse hoje", Gonçalo Santos.

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