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Rei na S. Silvestre de São Paulo

por neves, aj, em 29.12.08

(entrada decorada em tons verde-rubros já que, mesmo sem correr, este lusitano foi coroado como algum rei jamais o foi)

PhotobucketA Corrida de S. Silvestre é tradicionalmente disputada no dia do santo (31 de Dezembro) e a de São Paulo já foi das mais conceituadas e prestigiadas do mundo (talvez a mais), antes da crise económica se ter instalado (não esta enigmática de 2008) por culpa da inflação dos prémios de presença (cachês) exigidos pelos atletas de renome internacional. Há uns bons anos, a S. Silvestre de S. Paulo era disputada na "virada do ano" e o atletismo português marcava forte presença. Carlos Lopes (duas vitórias),  Rosa Mota (seis, consecutivas que a tornamrecordista), Aurora Cunha (uma) e ainda Manuel Faria (duas no final da década de 50 do século passado), foram os campeões lusitanos que tiveram o privilégio de cortar em primeiro a linha de chegada instalada na emblemática Avenida Paulista. No entanto, o ponto alto da prova situa-se um pouco antes, na difícil e longa subida da Avenida Brigadeiro Luís António onde geralmente a corrida é decidida já que quando se chega lá cima a Paulista fica ali mesmo ao virar da esquina (à direita) e onde, curiosamente, assentei arraiais das duas vezes que assisti à prova in loco.
Talvez tenha sido por este último motivo, de ter presenciado a prova na curva que antecede a recta de chegada, que o parágrafo preambular se apresenta nestes moldes já que foi durante a minha passagem pela Brigadeiro no passado dia 23, curiosamente em descida, que as linhas gerais desta crónica começaram a tomar forma na minha mente, embora, tenha-se já em conta, o produto final nada tenha a ver com a corrida.
Nessa Terça-feira  tratei de sair de casa a tempo e horas já que detesto chegar atrasado (para mais era do meu grande interesse) e nesta enorme urbe convém ir de véspera como os gaiteiros porque nunca sabemos como estará o movimento, o que iremos encontrar, apesar de que o meu destino era relativamente perto e a deslocação seria feita de metrô que funciona maravilhosamente (apartando os entalões na Estação da Sé na hora de ponta ou de rush) e a pé. Assim, num ápice estava a sair na Estação Brigadeiro na Paulista e chegado cá acima pé ante pé pelas escadas estáticas, afinal normais (detesto as rolantes), foi só girar a cabeça que nem pombo (quase, porque as aves só têm um côndilo occipital enquanto nós temos dois), apontar em direcção à Brigadeiro, esperar que o Jardel (do tempo dos leões de Alvalade) aparecesse no semáforo para atravessar a Paulista e aí vai ele em passo de corrida ladeira (Brigadeiro) abaixo.
Sabia eu de véspera, já que quando saio levo a lição bem estudada no mapa, que aí uns oito quarteirões mais abaixo teria que virar à direita e andar mais uma centena de metros. Para mais já tinha feito o mesmo percurso (com uma ligeira alteração) em finais de Outubro, altura em que fui mimoseado com coroa real e doce (como a que embeleza a entrada) mas que a inspiração, afinal a falta dela, e toda a movimentação à volta da cirurgia da Maria me impediram de colocar aqui neste nosso espaço o agradecimento devido por tão alta distinção e privilégio: o de poder saborear Bolo-Rei genuinamente lusitano a oito mil quilómetros de distância em terra onde ele parece que não é fabricado ou pelo menos não comercializado (nunca vi e já procurei), graças ao carinho e amabilidade de senhora que me viu crescer e esfolar os joelhos na nossa Rua do Outeirinho. Como nunca é tarde, registo os meus agradecimentos, mesmo há distância de dois meses.
PhotobucketMas não só Bolo-Rei, porque desta vez que vos estou a relatar aqui, a gracinha trazida por jovem senhora amiga da nossa vizinha (para quem abro parêntesis especial em agradecimento por delicadeza tão enorme quanto o Atlântico que atravessou) trouxe também saborosos mimos cujos aromas de imediato me fizeram voar à nossa Beira... queijo (amanteigado, que fez a delícia da Maria) e imaginem só, enchidos: chouriça, morcela, farinheira... que mais pode desejar este glutão dos prazeres da boca?
Meia corrida estava feita. Faltava ainda outra meia e agora seria em subida, mas achais vós que alguém cansa quando corre feliz e ainda por cima já premiado com coroa que nunca vencedor da S. Silvestre ou mesmo rei algum recebeu? E assim cravejada com preciosidades defumadas mais deliciosas e perfumadas que diamantes? Na subida, tempo e paragem para apreciar o Pestana São Paulo, ou melhor a Bandeira que flutua na frontaria (hasteada com orgulho e sem vergonha de revelar as suas origens como acontece com outras "grandes" empresas lusas que por aqui pululam). Sorri para Ela em respeitoso e devoto cumprimento, não em continência nem em sentido (não exageremos), mas sentidamente murmurei o quanto valorizamos a bela Bandeira (e o pequeno rectângulo) fora de portas. Nas calmas ia remoendo, juntando mais umas ideias ao texto e por tão feliz me sentir até jurei que não seria discreto aquando do agradecimento.
Sim, eu até sei que estou em desobediência, mas cumpre-me dizer ao mundo o quanto me sinto feliz e acarinhado com o recebimento destas lembranças, destas gracinhas ou mimos como lhe chama a D. Guidinha Branquinho, a senhora eterna vizinha do Outeirinho que me permite assim atravessar o Atlântico, mergulhar nas raízes, recuar alegremente no tempo e dissertar horas para a plateia cá de casa, para além claro de me satisfazer esta gula insaciável de tudo que tem sabor lusitano. Sim, sei que vou ser chamado de "Zé contradições", que afinal tem saudades, mas quem as não tem se tão distante da melhor mesa do mundo? Sim, sei também que vou ser chamado de mimado, quiçá em demasia, mas é tão bom sê-lo, seja em que idade for, sabiam?
E sabeis vós o que agora eu gostaria de saber? Palavras, saber palavras que me ajudassem a adjectivar este meu estado de contentamento... embaraçado e emocionado (afinal toda a dura couraça tem pontos fracos), fico-me apenas com um profundo e reconhecido obrigado.
Obrigado Guidinha e bem haja por todo o bem-estar que me oferece, que nos oferece melhor dizendo.






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publicado às 10:16



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