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Só falta o BI

por neves, aj, em 16.08.09

Nesta entrada que os leitores possuam o discernimento necessário para não confundir naturalização como cidadão de um dado país com convocação para uma selecção desportiva desse país; que também tenham a abertura mental suficiente para entender que nos referimos a Liedson como um cidadão estrangeiro (em relação a Portugal) e não como cidadão desta ou daquela nacionalidade específica; que igualmente todo o mundo absolva o cidadão Liedson desta embrulhada, afinal a naturalização é um direito seu e a convocação é da responsabilidade dos homens que comandam o futebol português; que, por último, os leitores tentem entender a dificuldade sentida em expressarmos uma opinião bem mais linear sobre o assunto, opinião, confessamos, que pode ter alguns aspectos contraditórios mas o que pretendemos é o equilíbrio e a harmonia.

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Pronto, já só falta o Bilhete de Identidade, agora parece que Cartão de Cidadão, para o estrangeiro Liedson ser português de pleno direito.
Como Queiroz e Madaíl desejavam. Aliás, os desesperados da Praça da Alegria agora querem tudo e aceitam tudo e mais alguma coisa para não se atolarem na fossa e conseguirem o apuramento para o Mundial 2010.
Atente-se que o cidadão brasileiro, baiano de Cairu, Liedson da Silva Muniz residente há 6 anos ininterruptos em solo nacional português, só poderia solicitar a naturalização em Setembro, mas o processo foi antecipado porque a sua naturalização foi considerada de interesse nacional, leia-se interesse da Federação Portuguesa de Futebol que o deseja apto (cidadão nacional português) a tempo para defrontar a Dinamarca (5 de Setembro) e a Hungria (9 de Setembro). Para marcar uns golitos, adiante-se, que possibilitem à Selecção levar de vencida aqueles dois ossos e (ainda) fazer sonhar uma nação inteira com a África do Sul.
Como se esperava, a integração de Liedson na Selecção das Quinas está a causar polémica.
Menos que a de Deco, mas mais que a de Pepe. Compreende-se, Deco foi o primeiro de um passado recente, Pepe era jovem e desde muito cedo que mostrou desejo, enquanto que Liedson vai fazer 32 anos em Dezembro próximo. É verdade que irá passar a ser português, por direito repita-se, e como tal convocável para defender as cores da Pátria, mas devido a ser uma nacionalidade adquirida os puristas são radicalmente contra que vista a camisola (camisa) verde-rubra da Selecção. Selecção de Futebol, atente-se, não de Voleibol ou de Atletismo. Nem Selecção Militar como no tempo da Guerra Colonial. Do outro lado estão os que têm uma visão mais abrangente, global, que defendem que um indivíduo quando nasce é apenas cidadão do mundo sendo a nacionalidade de registo uma questão circunstancial. Em parte, estes últimos têm a sua dose de razão e a nossa memória não necessita de voar longe para focar o caso, embora em sentido inverso, do cidadão José Gomes Temporão (nascido em solo português e que atravessou o Atlântico ao colo da mãe) que actualmente alinha na Selecção Brasileira orientada por Lula da Silva ocupando a posição de Ministro da Saúde. Nunca se ouviu uma voz contra o facto de ter nascido português. Só que Saúde não é Futebol. Se fosse, já teria caído o Carmo e a Trindade ou, melhor, o Cristo Redentor, já que as vozes que se levantariam seriam brasileiras. Idem aspas para Carmen Miranda, que jamais seria considerada ícone brasileiro se tivesse enveredado pela carreira de futebolista. Se pegarmos agora naqueles que fizeram o percurso ao contrário não podemos deixar de mencionar o facto (caricato, diga-se) de Portugal ter tido um Presidente da República nascido no Rio de Janeiro, embora, como é lógico, já portador da nacionalidade portuguesa adquirida logo que atingiu a maioridade. Pretendesse, nos dias de hoje, Bernardino Machado ser o centro-avante ou avançado-centro da Selecção e aqui sim, o Carmo e a Trindade pelo menos tremeriam. Como estão a tremer com o caso Liedson, mas verdade seja dita que, após os rios de tinta se escoarem, depressa se irão recompor.
PhotobucketEntre os que dizem não e os que dizem sim a Liedson na Selecção há os que nem lhes interessa lá muito a nacionalidade, preferindo falar apenas nos seus atributos futebolistas (e aqui, como é lógico, as opiniões ainda mais se dividem) e outros há que esperam para ver, para criticar, melhor dizendo. Todos estes são os que colocam o apuramento acima de todas as coisas, mas que, se ele não acontece, não deixarão de lançar palavras mais cruéis que punhais.
Quanto à nossa opinião pessoal, apetecia-nos pronunciar um nim, nem não nem sim. Poderia parecer opinião cobarde ficar assim em cima do muro em vez de cair para um dos lados, mas à semelhança do que escrevemos quando foi o "caso Deco" a nossa mente divide-se. Confessamos que não é da nossa simpatia ver na Selecção Nacional jogadores naturalizados só porque querem ir a um Europeu ou a um Mundial, ou apenas jogar numa Selecção Nacional quando na sua não o conseguem. É que as convocatórias desenfreadas de cidadãos naturalizados podem criar a banalização do conceito Selecção Nacional e levá-la a ser tal qual qualquer clube europeu hoje constituído por uma verdadeira manta de retalhos de nacionalidades diferentes. Assim escrevemos há cinco anos quando da convocação de Deco. No entanto, na questão Deco, nós reflectimos e passados que foram uns tempos até concordámos (escrevemos também a propósito e em contrição até baptizámos o nosso Galo de Barcelos com o seu nome) porque apesar de ter nascido no estrangeiro, Deco completou a sua formação no futebol português (imigrou quando ainda não tinha 19 anos) e depressa deu provas de entrega total à camisola que ainda veste, nunca nos tendo interessado se sabia ou sabe ou canta a Portuguesa. Pelas palavras saídas desde muito cedo (e mesmo já no poderoso Real Madrid) da boca de Pepe, de que desejava defender Portugal, também não tivemos dúvidas em aceitar, afinal Pepe foi para Portugal ainda moleque (18 anos) e toda a sua formação de futebolista e de homem sofreu a influência portuguesa.
Agora quanto a Liedson, tá claro que não podemos dizer NÃO assim de chofre já que temos os casos precedentes. No entanto, em casos como o do levezinho há que pensar e reflectir quanto ao futuro visto que se trata de jogador em final de carreira vendo-se a olho nu que é uma convocação em desespero, dando a ideia imediata de que esta é que determinou a naturalização e não o contrário. (fossem Maradona e Pelé convocáveis e, acreditamos, que Madaíl e Queiroz não olhariam a meios para os naturalizar)
Complicado, como se diz por aqui. Difícil de emitir opinião, quando o que pretendemos é o equilíbrio e a harmonia.
Cremos que estas situações de convocação de naturalizados terão que merecer estudo muito atento e aturado da parte da FIFA e ser esta entidade a pronunciar-se, criando normas mais exactas e taxativas, não bastando essa coisa de dizer que "é nacional pode ser convocado" (afinal o Presidente da República em Portugal não pode ser, actualmente, português naturalizado), tal como a Uefa que passou por cima das normas comunitárias da circulação livre de cidadãos para estabelecer um número máximo de jogadores da Comunidade a actuar nos clubes.
Até lá, que Liedson seja bem-vindo e que marque lá os golitos tão necessários para nos alegrar (... e salvar a pele a Cangalheiro Queiroz).








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