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A opinião de PEDRO GUINA
Ofensa à dignidade dos enfermeiros
Por razões familiares há muitos anos que acompanho o drama dos enfermeiros portugueses. Entram nas faculdades para tirar o curso com que sempre sonharam e, concluído o mesmo, nos dias que correm deparam-se logo com a dificuldade em conseguir emprego, entrando nas malhas do desemprego, muitas vezes sem direito a qualquer subsidio. Enquanto não conseguem emprego, muitos sujeitam-se a trabalho precário, a recibos verdes muitas vezes muito mal pago.
Os que conseguem emprego na função pública, celebram com o Estado contratos de trabalho a termo sucessivo, mudando ficticiamente em cada contrato a entidade patronal por forma a que o contrato não se converta em contrato sem termo, apesar de prestarem serviço sempre no mesmo posto de trabalho e sob as ordens e orientações da mesma entidade.
Mesmo os que lá conseguem entrar nos quadros, nem sequer são pagos como licenciados, sendo absolutamente discriminados em relação aos demais licenciados, os quais muitas vezes trabalham apenas de segunda a sexta, enquanto que os enfermeiros trabalham por turnos, de dia e de noite, sábados, domingos e feriados. Apesar de ser um trabalho pesado e de responsabilidade, não hesitou o governo em aumentar a idade da reforma de tal classe para os 65 anos de idade.
Recentemente, Miguel Relvas referiu que Portugal era excelente a exportar licenciados. Como se os licenciados fossem uma mercadoria. Como se isso fosse uma mais valia e não sinónimo de um país que é um fracasso a empregar os seus jovens. Miguel Relvas não deve sequer ter pensado quanto custa ao Estado uma licenciatura, a qual, depois é aproveitada pelos outros países da Europa que vêm buscar a Portugal quadros altamente qualificados a custo zero.
É isso que acontece com os enfermeiros, os quais, uma vez a braços com o desemprego ou com condições precárias de trabalho, optam por emigrar para outros países, onde são justamente remunerados e, acima de tudo respeitados.
Tudo o que se passava com os enfermeiros já era muito grave e degradante. Todavia esta semana foram ultrapassados todos os limites do respeito por esta classe. Centros de saúde da área de Lisboa a pagarem €3,96 à hora? Isto já não é só uma falta de respeito, mas acima de tudo um insulto a esta classe que, apesar de ter vindo a ser tão mal tratada pelo Estado, cumpre sempre o seu dever de forma empenhada.
Pedro Guina
Advogado
www.pedroguina.blogspot.com