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Chegou-me aoconhecimento que foi publicado um livro com o título que dá nome a estaentrada. Em pesquisa pela internet li então que a citada obra da autoria deManuel da Silva Ramos teria sido primeiramente apresentada na capital portuguesae que ontem, 21 de Julho, teve o seu lançamento na Casa da Cultura da nossaSanta Comba natal. Propositadamente, já que os acontecimentos narrados, melhordizendo, romanceados em A Ponte Submersa fazem parte da história recente da nossamãe-terra e que deixou os santacombadenses revoltados e emdor.
Com capa retratando a Ponte Salazar situada na agora submersa Foz do Dão,este romance gravita em redor de personagens ficcionais em que Suzana,Anabela e Júlia são três jovens meninas na idade dos sonhos e que forambrutalmente arrancadas à vida por um homem pequeno e seco, o Cabo Pá (cabo porser militante da GNR e pá por ser homem de trato fácil, mas também pá por páser ferramenta agrícola ou de pedreiro pronta a tapar, a enterrar qualquercoisa)... bem à semelhança real com as três flores abruptamente ceifadas do Jardim da nossaterra alegadamente por um ex-cabo reformado da GNR,instituição que não deixa de sofrer duras críticas na obra deManuel da Silva Ramos.
Curiosamente adesignação da obra trouxe-nos à memória uma outra, esta de VergílioFerreira e de título Manhã Submersa. Aqui, também o autor transporta para aficção acontecimentos da vida real só que os crimes são de outranatureza. Aqui fala-se do jovem seminarista sem vocação que se auto-flagelamutilando uma das mãos com um foguete de fogo de artifício de modo a ficarimpedido de se ordenar padre, fala-se da preocupação do mestre-padre sobreas vontades dos seus pupilos, fala-se de toques corporais, em sumafala-se desse mundo submerso (ou fica subentendido) que anteriormente era escondido e quehá uns tempos a esta parte tem vindo à tona. Curiosamente, ou talvez não, o autor deA Ponte Submersatambém não poupa a Igreja e acusa-a de conluio nos crimes ao abrigo da sagradalei do silêncio, do segredo ou seja ao abrigo da inviolabilidade dogmática daconfissão, chegando o padre a perdoar os crimes do Cabo Pá que embora seco é,afinal, homemdevoto e usual caminheiro a Fátima.
Curioso, maisuma vez, é darmos conta que a Igreja até tem uma certa apetência para as coisas obscuras, submersas, atoladas,coisas com lugar próprio lá no fundo, no abismo,afinal à semelhança dos regimes ditatoriais, autoritários, criandoassim condições propícias para a execução de actividades perversas ehediondas empersonalidades como a do Cabo Pá, o homem seco temente a Deus defensor dorigor e da lei que chega a assumir o papel de executor dessa mesma lei, a sualei.
Creio que APonteSubmersa não chegará até cá a Terras de Vera Cruz... mas talvez venha, quemsabe, como oferta dirigida à minha pessoa. No entanto, confesso que nestemomento não sinto muita curiosidade e se o meu estado de espírito se mantiver assim como se encontradificilmente o folhearei, isto apesar de já ter lido umas linhas que encontrei no blogue1979 e que vos ofereçoaqui. Não sei setodos estarão preparados para ler A PonteSubmersa nesta altura, quanto a mim penso queterei de deixar amarelecer um poucomais as folhas das recordações e demais talvez eu seja mais adepto daficção pura do que do romance de ficção baseado no real, pelo menos em realidades que (ainda) meatormentam.
Post-scriptum -a leitura do acórdão, sentença,do acusado do homicídio das três jovens santacombadenses está marcado para opróximo dia 31 de Julho.