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Umdia de pesca dolorosamente reconfortante
Notaintrodutória feita por nós, Voz do Seven: Paradoxalmentepoderia este episódio servir de tese ao quenos era dito, em puro branqueamento de uma guerra horrenda, a nós mais novos e futuros combatentes de que a maioria das mortes eestropiações dos nossos jovens militares eram provocadas por acidentes ebrincadeiras... tenhamos em atenção caros amigos que em situação de paze calmaria esses acidentes e brincadeiras jamais aconteceriam e, mais,esses acidentes e brincadeiras seriam afinal o produto de uma preparaçãobélico-militar rígida e disciplinada, muitas vezes presunçosa e administradacom ajuda de baratas filosofias (rácico-nacionalistas no caso), que conseguiaadulterar a personalidade tornando o indivíduo numa máquina agressiva econdicionada pronta a reagir logo de imediato ao estímulo (simples provocaçãopoderia bastar), viesse de onde viesse esse estímulo. Em mensagem quenos enviou, o amigo João diz-nos que "não me senti vocacionado para descrever em pormenor os tristes acontecimentos passados nas artérias de Bissau, nessa tarde/noite fatídica. Porém tomei a liberdade de te enviar um extracto que retirei do livroGADAMAEL, da autoria do colega pára-quedista Carmo Vicente, que tal como eu, viveu intensamente essesacontecimentos"... nós compreendemos, compreendemos muito bem o amigo João já que não é fácilfalar de momentos que desejávamos nunca terem acontecido ou que nossos sentidos jamais setivessem apercebido,mas como ele diz mais à frente "nada pode apagar". Nada nem ninguém,acrescentamos nós, mas pensamos que botar cá para fora esses horrores farábem ao espírito de todos, principalmente aos que os viveram e presenciaram, aosfamiliares dos que não regressaram por si e também aos jovens da minha idade e aos de agora para não se deixarem enrolarnas falinhas mansas branqueadoras de uma guerra dita patriótica e formadora decaracteres, como a de que a ida a Angola ou à Guiné faria cada um de nós umhomem. A Guerra Colonial foi uma coisa muito séria, horrenda, matou eestropiou, bastante, dezenas de milhar de jovens, de ambas as partes nãoesqueçamos, desfez lares, fabricou viúvas e órfãos, em suma deixou um rastrosangrento e doloroso que é necessário mostrar para não cair no esquecimento,fazendo de conta que nada aconteceu. Rastro que inexplicavelmente os nossos historiadores teimam em não relatar de modo bem claro e sem rodeios à semelhançade outras passagens da nossa História... que nos sirvam por enquanto estas históriasvivenciais como aque o amigo João nos relata. No final destanota que abusou na extensão, tal como testamento ou discurso de Fidel, deixamos então a ligação a Umdia de pesca dolorosamente reconfortantecom oaviso de que no final do texto encontrareis ligação (link) a umdocumento PowerPoint da nossa inteira responsabilidade e à revelia do nossoamigo João onde constarão as páginas do livro GADAMAEL que relatam o trágico acontecimento.
O amigo João regressou às nossaspáginas e com uma história ou crónica que tem como pano de fundo um dos seuspassatempos favoritos: a pesca desportiva. No entanto, o destino cruel, mas reconfortanteacrescentamos e após a leitura do texto percebereis porquê, quis que a sua amada pesca lhe fizesse reviver momentodoloroso em que foi testemunha da morte de dois seus camaradas de armas nessaguerra estúpida lá nos cus de judas em África. Embora a cenadramática a que se refere não se tenha passado na mata nem contra o inimigohabitual, antes sim entre irmãos, este é um dos episódios que muito servepara nos elucidar sobre o estado psíquico dos nossos jovens de entãopreparados para morrer ou matar em autêntica lavagem cerebral por generaisque se enchiam de dinheiro e honras a mando dos senhores da guerra comodamentesentados nas poltronas em Lisboa. As tensões, imaginamos, seriam enormes equalquer momento mais propício seria aproveitado de imediato, cremos,para as descarregar.