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Melancolia (mais ainda)

por neves, aj, em 13.08.07

Melancolia(mais ainda)
... recuando, de novo e mais ainda, alegremente triste na memória da vida.
(a José Dias de Figueiredo Júnior, in memorium)

Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketTalvez um dos maiores paradoxos da escrita seja escrever sobre algo que não gostaríamos de ter acontecido, mas que ao mesmo tempo nos transmite um certo bem-estar ao fazê-lo visto que o encadeamento das ideias a colocar no papel nos faz retroceder alegremente no tempo e recordar momentos únicos passados na nossa vida. Assim me aconteceu quando redigi Melancolia e também Melancolia (ainda), escritos com a intenção única de fazer homenagem singela e pessoal a dois amigos cuja passagem terrena me marcaram substancialmente, mas cuja divulgação aqui (e publicação no semanário Defesa da Beira) me deixaram deveras feliz por poder mostrar que não é só de celebridades que a minha ditosa Santa Comba Dão tem de viver e que o engrandecimento de uma terra, seja em que campo for, é feito também por gente anónima e simples.
Hoje é Domingo e eu tento escrever. Passam alguns minutos das sete horas de uma manhã que nasceu fria, cinzenta sem Sol, acrescento melancólica para fazer jus ao título desta crónica que demora em avançar talvez por falta de coordenação das ideias, o que me leva a pensar, em parte, que quando a escrita me obriga a voar a dura carcaça fica vulnerável às emoções. Se por um lado quero ser rápido e preciso para não vos cansar, por outro gostava que a inspiração me visitasse para romancear com todos os esses e erres este texto dedicado à memória de um amigo que no
Cantinho dos Pinguins do Voz do Seven defini há um bom malote de tempo como o "homem bom sempre pronto a ajudar cada um de nós", sendo que nós se refere a atletas do Desportivo Santacombadense de alguns pares de anos a esta parte.
Soube do falecimento do Zé Dias, José Dias de Figueiredo Júnior, na segunda Sexta-feira deste mês de Agosto. Seriam umas seis e meia da tarde quando a campainha do telefone retiniu. Sim, sei que era quase noite e nesta altura do ano em que o Inverno reina por aqui é mais ou menos a essa hora que a luz do dia se vai.
Relatei então a minha companheira que o previsível tinha acontecido e que o sofrimento ditado por uma lei cruel e injusta findara. Um pouco para desanuviar do impacto, imitei os demais mortais e dissertei sobre o Zé Dias e sobre essa lei que foi assim estabelecida e à qual ninguém pode fugir. Contudo, também jurei que através de prosa pública iria fazer algo para libertar o homem simples e prestável dessa lei do esquecimento que Camões denominou de Lei da Morte.
Aqui estou. Com dificuldades, como disse. A ansiedade de botar p'ra fora é enorme, mas o fio da meada anda perdido no emaranhado das recordações que por serem imensas me vejo na obrigação de fazer uma triagem. No entanto, as vontades e os quereres chocam-se violentamente talvez por sentir um certo constrangimento em falar do passado mais recente, aquele de há cinco anos quando parti de Santa Comba rumo a estas paragens ditas tropicais, em recordar um Zé Dias não tão dinâmico, mais cansado, vítima de uma vida de trabalho e da doença que o resolveu apoquentar. Cansaço muito por culpa de horas e horas (em tempos privados de calculadoras) de multiplicações e somas de balanços e balancetes na resineira onde labutava e mais horas e horas de dedicação ao secretariado e às contas de uma difícil tesouraria do Desportivo Santacombadense... é, e mais uma vez os Pinguins me transportam a tempos de outrora, aos tempos da minha adolescência quando futebol ainda se chamava de "jogar à bola" e era sinal inequívoco de amizade, de fraternidade e de leal e salutar convivência.
Pinguins, a segunda família do Zé Dias. Vejo-o aqui a nosso lado elegantemente vestido de fato (terno) e gravata, como sempre, em
foto captada em Penalva do Castelo pelo sr David de Oliveira e que é a única que possuo sobre a minha passagem pelos Pinguins. Faço um recorte da sua figura porque é dele que quero falar e coloco-o em destaque. Recordo o homem que se via e desejava para manter a calma habitual aquando do preenchimento da ficha de jogo em balneário (vestiário) despido de mesa já que ele era o homem da caligrafia bela e exótica, tão artisticamente trabalhada que a guardei religiosamente na memória. Recordo ainda o nervosismo constante durante os 90 minutos, os cigarritos fumados, a desilusão do golo sofrido e o abraço pelo bom resultado alcançado... como aqui frente ao poderoso Penalva em que empatámos por1-1.
Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketAo falar do Zé Dias inevitavelmente me surge a figura do Delfim Pina, o Presidente. Para mim são indissociáveis e está claro que esta ligação que fabriquei na minha mente é perfeitamente plausível e previsível visto que ambos se dedicaram à causa da Camisola Preta com anos e anos em simultâneo na mesma Direcção. Mas, mais nomes me chegam em catadupa à memória: Teixeira Dinis, o Treinador, inevitavelmente, e outros mais como o animadíssimo Alfredo (o homem da imortalizada Gaivota) que me obrigaram a ir rebuscar no álbum de recordações e destacar uma foto, aquela mesma foto que recordei aquando prestei tributo ao Delfim Pina.
É também com esta mesma foto que quero acabar esta pequena homenagem ao grande Zé Dias que despido da habitual pacatez, mas elegantemente vestido como sempre, repito, nos aparece em pose brincalhona com a boina do Serafim.

Inté, caro Zé Dias!

Post-scriptum-  Ainda no seu relato, a pessoa amiga que estava do outro lado da linha e do Atlântico como sabedora dos meus laços afectivos achou por bem comunicar-me igualmente o falecimento de senhora, talvez já centenária, membro de um lar para mim tão familiar, querido e especial: o lar de Teixeira Dinis, o Treinador. Em sentido, o lamento, e aproveito esta forma para enviar abraço de solidariedade aos seus familiares, mui em especial a sua devota filha tão castigada pelo sofrimento.

São Paulo, 20/08/2007

MELANCOLIA            MELANCOLIA(AINDA)

  

 

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publicado às 20:54


5 comentários

De Alípio Calisto a 30.08.2007 às 15:39

Era de todo impossivel deixar passar em branco este doloroso acontecimento. Um grande amigo (um dos maiores carolas da nossa terra), que se entregou de corpo e alma ás mais diversas tarefas nas instituições Santacombadenses, sem nunca visar quaisquer ganhos. Lembro-me das dificuldades que enfrentou sózinho quando os outros (membros de direcções de que fazia parte), deixavam tudo para ele resolver. Espero ver um dia, pelo menos uma rua com o seu nome, como agradecimento pelos serviços prestados à sua terra. Camarada de tantas pescarias, lembro-me do seu nervosismo (sempre que o peixe era um pouco maior...!), pela incerteza de não saber se o peixe chegava a terra firme... Como tremia o Zé Dias...! Conto, até, que um dia em que só ele apanhou um Barbo, de tamanho razoável, eu lhe disse, e cito: "Ó Zé Dias esse peixe deve ser cego!!!" era brincadeira, mas na verdade não me enganei totalmente, porque o peixe, só tinha um olho. Belos momentos passados com este nosso querido amigo. Que descanse em paz. Para toda a sua familia (apesar de tarde),vão os meus mais sentidos pêsames.
Abraço
Alípio Calisto

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